quinta-feira, setembro 18, 2014

Borges y yo

Borges y yo

«Al otro, a Borges, es a quien le ocurren las cosas. Yo camino por Buenos Aires y me demoro, acaso ya mecánicamente, para mirar el arco de un zaguán y la puerta cancel; de Borges tengo noticias por el correo y veo su nombre en una terna de profesores o en un diccionario biográfico. Me gustan los relojes de arena, los mapas, la tipografía del siglo XVII, las etimologías, el sabor del café y la prosa de Stevenson; el otro comparte esas preferencias, pero de un modo vanidoso que las convierte en atributos de un actor. Sería exagerado afirmar que nuestra relación es hostil; yo vivo, yo me dejo vivir para que Borges pueda tramar su literatura y esa literatura me justifica. Nada me cuesta confesar que ha logrado ciertas páginas válidas, pero esas páginas no me pueden salvar, quizá porque lo bueno ya no es de nadie, ni siquiera del otro, sino del lenguaje o la tradición. Por lo demás, yo estoy destinado a perderme, definitivamente, y sólo algún instante de mí podrá sobrevivir en el otro. Poco a poco voy cediéndole todo, aunque me consta su perversa costumbre de falsear y magnificar. Spinoza entendió que todas las cosas quieren perseverar en su ser; la piedra eternamente quiere ser piedra y el tigre un tigre. Yo he de quedar en Borges, no en mí (si es que alguien soy), pero me reconozco menos en sus libros que en muchos otros o que en el laborioso rasgueo de una guitarra. Hace años yo traté de librarme de él y pasé de las mitologías del arrabal a los juegos con el tiempo y con lo infinito, pero esos juegos son de Borges ahora y tendré que idear otras cosas. Así mi vida es una fuga y todo lo pierdo y todo es del olvido, o del otro.

No sé cuál de los dos escribe esta página.»


Jorge Luis Borges, 1957

quarta-feira, setembro 10, 2014

«Em 15 minutos toda a gente vai ser famosa» I

Penso que tinha dez anos quando comecei a ver a série “Indiana Jones e as Crónicas da Juventude”. Tornou-se na minha série preferida porque o MacGyver estava a terminar ou tinha já acabado. A minha disciplina preferida sempre fora História e o facto do pequeno Indiana Jones ter também dez anos e viver as aventuras nos lugares mais fantásticos do mundo fazia-me sonhar com uma vida igual.

 Acho que todos queríamos ser Indianas Jones. Não conheço nenhuma personagem mais fixe. Se me perguntassem um pouco mais tarde o que queria ser quando fosse grande eu e outros amigos meus queríamos ser arqueólogos-professores que lutam pelo bem em lugares onde a história mundial se está a escrever. O que mais me fascinava na série de que falo é que em cada episódio o velho Indiana Jones contava como tinha sido a sua presença juvenil em cenários como a grande guerra mundial, a revolução bolchevique ou a Paris dos Cubistas. O Indiana Jones não se tornou famoso por ter conhecido Picasso, Lenine ou o Hitler, mas ouviu-os ou disse-lhes alguma coisa em alguns momentos. Eu tinha um sonho de poder também viver uma vida assim. De aventuras e de, nos entretantos, poder conhecer vultos contemporâneos que mudam o nosso mundo. Sem ser notado, mas contente por ter aprendido qualquer coisa com eles. Saber que me viram um dia e, mesmo se esquecendo completamente de mim, eu poder dizer aos meus netos que troquei algumas palavras ou até histórias. Eu que adoro biografias  gostaria de guardar na memória alguns encontros com estas pessoas que, por talento, sorte ou trabalho se tornaram celebridades famosas. Talvez seja por saber que a maioria se irá libertar mais facilmente que nós das leis que a mortalidade dita e este desejo seja porventura o de lhes retirar um pouco dessa imortalidade. Talvez porque os figurantes sentem por vezes o desejo escondido de terem uma ínfima contra-cena com os protagonistas.

Todos os que viram o Forest Gump na altura e se sentiram assombrados pelo facto de ele ter tido a influência ficcional que teve junto de algumas figuras do século XX também percebem este sentimento. Era o Forest Gump que eu queria ser. O basbaque dos bastidores. O taxista zé-ninguém à conversa com artistas, políticos e sumidades de menor ou maior grau. Não é pois assim de procura de autógrafos de que falo. Um dos poucos autógrafos que pedi na vida foi ao Mickey e isso nem me parece que mereça qualquer relato. Não tenho selfies com conhecidos e pseudo-conhecidos da nossa praça. Mas tenho algumas histórias que gostava que contar sobre os cruzamentos que tivemos. Infelizmente nenhuma tem o poder de argumento que o Indiana Jones e o Forest Gump tiveram. A maioria são com portugueses o que relativiza a sua celebridade mundial. Eles não se lembram do contacto mas queria que outras gerações de Fontes pelo menos pudessem sorrir ao saberem que me cruzei com algumas das pessoas que eles só vão conhecer da Wikipedia.

O Andy Warhol celebrizou a expressão «No futuro toda a gente vai ter 15 minutos de fama» e depois parodiava a própria citação dizendo «No futuro 15 pessoas serão famosas» e «Em 15 minutos toda a gente será famosa». Decidi escolher esta última, pela sua maior fugacidade e adequabilidade à realidade que conheci. Será assim a frase que dará título a um conjunto de histórias pouco fascinantes e corriqueiras resumidas a menos que três frases e que vão desde o Rei Eusébio, à Mariza, Soraia Chaves, Platini, Toy, Noel Gallagher, José Luís Peixoto, Jorge Palma entre outros.


Felizmente posso escrever porque não sou famoso. Gonçalo Fontes

sexta-feira, setembro 05, 2014

"almost like the blues"

«I saw some people starving
There was murder, there was rape
Their villages were burning
They were trying to escape
I couldn’t meet their glances
I was staring at my shoes
It was acid, it was tragic
It was almost like the blues

I have to die a little
Between each murderous thought
And when I’m finished thinking
I have to die a lot
There’s torture and there’s killing
And there’s all my bad reviews
The war, the children missing
Lord, it’s almost like the blues

So I let my heart get frozen
To keep away the rot
My father said I’m chosen 
My mother said I’m not
I listened to their story
Of the Gypsies and the Jews
It was good, it wasn’t boring
It was almost like the blues

There is no G-d in Heaven
And there is no Hell below
So says the great professor
Of all there is to know
But I’ve had the invitation
That a sinner can’t refuse
And it’s almost like salvation
It’s almost like the blues.»



Leonard Cohen, 2014

https://www.youtube.com/watch?v=szYrXzEi0cg

quinta-feira, setembro 04, 2014

не снова!

Há 75 anos atrás, no dia 1 de Setembro, a Alemanha Nazi invadia a Polónia e começava a Segunda Guerra Mundial.

Qualquer decisão que resulte na morte de quem quer que seja o homem, mulher ou criança é um tenebroso retrocesso na nossa civilização. É urgente estar atento e lutar para que histórias, como as deste rapaz polaco que regressa para ver que já não existe a sua casa de Varsóvia, deixem de se repetir.

Acabar-lhes com a tusa de poder e de glória nefasta enquanto é tempo. Propagandear a paz e eliminar a raiz do ódio tão cedo quanto o necessário.G.F.

                                                                            AP Photo/Julien Bryan


This American Life

O meu programa preferido de rádio chama-se "This american life" de Ira Glass. Excepcionalmente premiado tem o seu seu podcast mais visto nos Estados Unidos. Para quem adora rádio falada e sobretudo estórias sobre todo o tipo de gente, ideias e vidas aqui deixo um link de um dos milhares de programas já gravados. Este juntou várias pequenos actos.  Para gravar e ir ouvindo quando se vai ou vem de lá para cá do nosso dia-a-dia.



Em Portugal, qualquer material do excelente Fernando Alves da Telefonia Sem Fios.

 Radialismo de qualidade. 

G.F.

Lisboa está aqui.

Lisboa está aí. Está descoberta na grande torrente do rio da fama global. Tornou-se naquela banda que alguns melómanos alternativos cultivavam e que em sete estações sobe aos topos das tabelas. (sete estações, o tempo que demoram as coisas a morrer ou a tornar-se fenómenos). Lisboa está aí para todos saberem quem é.

Eu, que sempre a conheci, sinto um certa dor-de-cotovelo-mouro. Um ciúme alfacinha. Ambíguo como a todo o ciúme cheira e melancólico como tudo o que é de Lisboa se prova.

A culpa também é de Ary dos Santos e do Carlos do Carmo. Ou de Bernardim Ribeiro. A Lisboa sempre a senti Menina e Moça. Menina de significado terno, cândido mas também de outra (mesma) face lasciva e sedutora. Menina - uma das palavras mais bonitas da Língua Portuguesa. Lisboa o substantivo com mais Luz de todos os léxicos terrestres. Menina-Lisboa- Mulher. Menina dos nossos olhos. Menina que se espraia no Tejo. Solteira que conquistamos mas com quem não dormimos, porque a nossa cama é Queluz, Almada ou Cascais.

 Lisboa, perfil feminino e Capital das outras capitais mulheres. Menina-Metrópole por quem só as gentes com tesão por mulheres (explicitas ou de armários, racionais ou edipianas) se podem verdadeiramente apaixonar.

 Ela está aí para todos conhecerem, esta Menina Celto-Mulata, nascida da mistura mundial das Mulheres mais Bonitas conhecidas e que todos os invasores não ousaram matar, sobretudo desejando nela permanecer.

A nós, que a conhecemos de sempre, é-nos impossível não comparar com todas as outras meninas. Por mais nostálgico-fascinante que esteja a ser a vista a partir da Table Moutain ou a silhueta bordada a minaretes de Istambul ao pôr-do-sol é impossível não comparar logo com a nossa Lisboa. Eu olhei os canais em Veneza e vi gôndolas, um mercador-tenor e um Carnaval-obra-prima. Olhei os lagos de Covadonga e vi vacas no término bucólico do Paraíso, alguma Paz . Olhei Bled e vi fadas, rainhas e arte nas idades das trevas. Mas quando eu olho o Tejo eu sou o Mundo, todas as utopias dos que antes olharam o nosso rio e quiseram «aparelhar esse barco da ilusão». E também vejo merda, tainhas oleadas, cacilheiros de formigas-em-lata.  Que afinal também boiam por quimeras.

 Nenhuma outra Pólis me faz querer navegar assim em vez de viver sempre ali. E eu preciso e gosto disso.De voltar-lhe sempre.

 Estas comparações são seguramente provincianas, bairristas, pequenas, mas Lisboa nunca me foi platónica e pergunto-me o que será do amor se este for um território neutro onde não se queiram enterrar as bandeiras apaixonadas?

Esta Lisboa-Canção aí à descoberta da nova vaga turística foi o lugar escolhido pelos nossos pais para nascermos. Gostava que fossemos muitos mais. Que Lisboa pudesse mesmo dar ao Universo bué alfacinhazinhas, filhos e filhas de Olissipo que enchessem o Jardim Zoológico na Primavera, fizessem o passeio dos tristes de Domingo até à Boca do Inferno ou dessem o primeiro beijo em Sintra. Que surgissem mais alfacinhas de nova genética variada, que respondessem por “sou escalabitano-zulu”, sou “transmontano-inuit” e que aprendessem todos a cantar fado vadio à desgarrada e chorassem ao verem imagens do Glorioso de Eusébio e Coluna a ganharem a Taça dos Campeões Europeus. Gostava que Lisboa, Cidade-Mãe, nos pudesse dar mais filhos. Por azar, esta e outras cidades também tiveram de deitar cá para fora os seus bastardos tornando Lisboa, acompanhando o passo das suas pequenas irmãs por todo o país, numa cidade-de-regresso, numa terra para os que só a querem visitar ou que têm dinheiro para sustentar os seus vícios próprios de uma bela cidade-sol.

 Lisboa está aí para os outros a descobrirem. Está descoberta. Eu fico genuinamente feliz com isso. Alegro-me muito com facto de toda a gente puder conhecer este meu amor que compreende tantos outros pequenos amores. Alegra-me que saibam que existe uma identidade Lisboeta, que se misturem comigo e que me ensinem. Que percebam que não somos Madrid. Que aproveitem esta luz e fiquem mais bonitos. Que saibam a que cheira a liberdade num cravo ou a canela de um pastel de Belém. Que dancem sentindo nos dedos as sardinhas.

 Mas fico muito triste por perceber que Lisboa nem precisava assim de muitos novos filhos. Precisava de vocês meus amigos. Que aqui estivessem quando faz frio, que pudessem enjoar de bacalhau, que participassem nas discussões académicas, criassem identidades artísticas aqui, que alterassem as mediocridades dos círculos políticos nacionais. Gostava que simplesmente vissem os vossos pais envelhecer.

Esta mágoa que ligeiramente abocanha a raiva acalma-se porque sei que um dia vocês vão conseguir voltar de vez das cidades estrangeiras onde vos deixaram continuar a sonhar.  Lisboa estará ali para os outros mas aqui à vossa espera. Então Saudadicida e Moça.  Sempre Menina.

Gonçalo Fontes

terça-feira, julho 29, 2014

«Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê, só se ouve seu canto. Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração que pulsa com o nosso. Suspeita... Nenhuma certeza. Fujam dos que têm certezas. Olhem bem: eles trazem gaiolas nas suas mãos. Os pássaros que tem presos nas suas gaiolas são pássaros empalhados. Ídolos.»

Rubem Alves, escritor, psicanalista, teólogo, educador
 1933-2014

Dias de Férias III


Dias de Férias II


Dias de Férias.


Os lugares por onde me locomovo pouco têm de céu. Não me magoará este transporte diário: Nunca quis ser piloto, fotógrafo paisagista ou vendedor de chapéus-de-chuva. Só te estou a dizer que vou entrando e saindo de sítios onde as nuvens nunca nos sobreolham (e também te posso dizer que os chapéus não são de chuva, são de mau plástico).
Neles, ou estamos frente às construções que nos enquadram ou somo-las. Alguns dias, outros dias, por ano, somos o resto.

Os lugares por onde me comovo podiam ter Céu, mas nada. A mágoa nem vem nessa ausência: esses sítios têm pessoas desconhecidas que cheiram a fulminantes, bilhetes de amor queimados e sobretudo, não sabem a escape.
Neles, ou estamos dentro das águas correntes ou somo-las. Nesses dias somos o resto.
E o resto, quando é bom, é tudo.

Gonçalo Fontes

segunda-feira, julho 28, 2014

wishes.

non mi va.

«No veramente non...non mi va. Ho anche un mezzo appuntamento al bar con gli altri. Senti, ma che tipo di festa è? Non è che alle dieci state tutti a ballare i girotondi ed io sto buttato in un angolo...no. Ah no, se si balla non vengo. No, allora non vengo. Che dici vengo?. Mi si nota di più se vengo e me ne sto in disparte o se non vengo per niente? Vengo. Vengo e mi metto, così, vicino a una finestra, di profilo, in controluce. Voi mi fate "Michele vieni di là con noi, dai" ed io "andate, andate, vi raggiungo dopo". Vengo, ci vediamo là. No, non mi va, non vengo.»

Michele (N. Moretti), no Ecce Bombo

quarta-feira, março 26, 2014

comer no McDonalds é matematicamente impossível

McDonalds Is Impossible

BY CHELSEA MARTIN
Eating food from McDonald's is mathematically impossible.
Because before you can eat it, you have to order it.
And before you can order it, you have to decide what you want.
And before you can decide what you want, you have to read the menu.
And before you can read the menu, you have to be in front of the menu.
And before you can be in front of the menu, you have to wait in line.
And before you can wait in line, you have to drive to the restaurant.
And before you can drive to the restaurant, you have to get in your car.
And before you can get in your car, you have to put clothes on.
And before you can put clothes on, you have to get out of bed.
And before you can get out of bed, you have to stop being so depressed.
And before you can stop being so depressed, you have to understand what depression is.
And before you can understand what depression is, you have to think clearly.
And before you can think clearly, you have to turn off the TV.
And before you can turn off the TV, you have to free your hands.
And before you can free your hands, you have to stop masturbating.
And before you can stop masturbating, you have to get off.
And before you can get off, you have to imagine someone you really like with his pants off, encouraging you to explore his enlarged genitalia.
And before you can imagine someone you really like with his pants off encouraging you to explore his enlarged genitalia, you have to imagine that person stroking your neck.
And before you can imagine that person stroking your neck, you have to imagine that person walking up to you looking determined.
And before you can imagine that person walking up to you looking determined, you have to choose who that person is.
And before you can choose who that person is, you have to like someone.
And before you can like someone, you have to interact with someone.
And before you can interact with someone, you have to introduce yourself.
And before you can introduce yourself, you have to be in a social situation.
And before you can be in a social situation, you have to be invited to something somehow.
And before you can be invited to something somehow, you have to receive a telephone call from a friend.
And before you can receive a telephone call from a friend, you have to make a reputation for yourself as being sort of fun.
And before you can make a reputation for yourself as being sort of fun, you have to be noticeably fun on several different occasions.
And before you can be noticeably fun on several different occasions, you have to be fun once in the presence of two or more people.
And before you can be fun once in the presence of two or more people, you have to be drunk.
And before you can be drunk, you have to buy alcohol.
And before you can buy alcohol, you have to want your psychological state to be altered.
And before you can want your psychological state to be altered, you have to recognize that your current psychological state is unsatisfactory.
And before you can recognize that your current psychological state is unsatisfactory, you have to grow tired of your lifestyle.
And before you can grow tired of your lifestyle, you have to repeat the same patterns over and over endlessly.
And before you can repeat the same patterns over and over endlessly, you have to lose a lot of your creativity.
And before you can lose a lot of your creativity, you have to stop reading books.
And before you can stop reading books, you have to think that you would benefit from reading less frequently.
And before you can think that you would benefit from reading less frequently, you have to be discouraged by the written word.
And before you can be discouraged by the written word, you have to read something that reinforces your insecurities.
And before you can read something that reinforces your insecurities, you have to have insecurities.
And before you can have insecurities, you have to be awake for part of the day.
And before you can be awake for part of the day, you have to feel motivation to wake up.
And before you can feel motivation to wake up, you have to dream of perfectly synchronized conversations with people you desire to talk to.
And before you can dream of perfectly synchronized conversations with people you desire to talk to, you have to have a general idea of what a perfectly synchronized conversation is.
And before you can have a general idea of what a perfectly synchronized conversation is, you have to watch a lot of movies in which people successfully talk to each other.
And before you can watch a lot of movies in which people successfully talk to each other, you have to have an interest in other people.
And before you can have an interest in other people, you have to have some way of benefiting from other people.
And before you can have some way of benefiting from other people, you have to have goals.
And before you can have goals, you have to want power.
And before you can want power, you have to feel greed.
And before you can feel greed, you have to feel more deserving than others.
And before you can feel more deserving than others, you have to feel a general disgust with the human population.
And before you can feel a general disgust with the human population, you have to be emotionally wounded.
And before you can be emotionally wounded, you have to be treated badly by someone you think you care about while in a naive, vulnerable state.
And before you can be treated badly by someone you think you care about while in a naive, vulnerable state, you have to feel inferior to that person.
And before you can feel inferior to that person, you have to watch him laughing and walking towards his drum kit with his shirt off and the sun all over him.
And before you can watch him laughing and walking towards his drum kit with his shirt off and the sun all over him, you have to go to one of his outdoor shows.
And before you can go to one of his outdoor shows, you have to pretend to know something about music.
And before you can pretend to know something about music, you have to feel embarrassed about your real interests.
And before you can feel embarrassed about your real interests, you have to realize that your interests are different from other people's interests.
And before you can realize that your interests are different from other people’s interests, you have to be regularly misunderstood.
And before you can be regularly misunderstood, you have to be almost completely socially debilitated.
And before you can be almost completely socially debilitated, you have to be an outcast.
And before you can be an outcast, you have to be rejected by your entire group of friends.
And before you can be rejected by your entire group of friends, you have to be suffocatingly loyal to your friends.
And before you can be suffocatingly loyal to your friends, you have to be afraid of loss.
And before you can be afraid of loss, you have to lose something of value.
And before you can lose something of value, you have to realize that that thing will never change.
And before you can realize that that thing will never change, you have to have the same conversation with your grandmother forty or fifty times.
And before you can have the same conversation with your grandmother forty or fifty times, you have to have a desire to talk to her and form a meaningful relationship.
And before you can have a desire to talk to her and form a meaningful relationship, you have to love her.
And before you can love her, you have to notice the great tolerance she has for you.
And before you can notice the great tolerance she has for you, you have to break one of her favorite china teacups that her mother gave her and forget to apologize.
And before you can break one of her favorite china teacups that her mother gave her and forget to apologize, you have to insist on using the teacups for your imaginary tea party. And before you can insist on using the teacups for your imaginary tea party, you have to cultivate your imagination.
And before you can cultivate your imagination, you have to spend a lot of time alone.
And before you can spend a lot of time alone, you have to find ways to sneak away from your siblings.
And before you can find ways to sneak away from your siblings, you have to have siblings.
And before you can have siblings, you have to underwhelm your parents.
And before you can underwhelm your parents, you have to be quiet, polite and unnoticeable.
And before you can be quiet, polite and unnoticeable, you have to understand that it is possible to disappoint your parents.
And before you can understand that it is possible to disappoint your parents, you have to be harshly reprimanded.
And before you can be harshly reprimanded, you have to sing loudly at an inappropriate moment.
And before you can sing loudly at an inappropriate moment, you have to be happy.
And before you can be happy, you have to be able to recognize happiness.
And before you can be able to recognize happiness, you have to know distress.
And before you can know distress, you have to be watched by an insufficient babysitter for one week.
And before you can be watched by an insufficient babysitter for one week, you have to vomit on the other, more pleasant babysitter.
And before you can vomit on the other, more pleasant babysitter, you have to be sick.
And before you can be sick, you have to eat something you’re allergic to.
And before you can eat something you’re allergic to, you have to have allergies.
And before you can have allergies, you have to be born.
And before you can be born, you have to be conceived.
And before you can be conceived, your parents have to copulate.
And before your parents can copulate, they have to be attracted to one another.
And before they can be attracted to one another, they have to have common interests.
And before they can have common interests, they have to talk to each other.
And before they can talk to each other, they have to meet.
And before they can meet, they have to have in-school suspension on the same day.
And before they can have in-school suspension on the same day, they have to get caught sneaking off campus separately.
And before they can get caught sneaking off campus separately, they have to think of somewhere to go.
And before they can think of somewhere to go, they have to be familiar with McDonald's.
And before they can be familiar with McDonald's, they have to eat food from McDonald's.
And eating food from McDonald's is mathematically impossible.
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Chelsea Martin, "McDonalds Is Impossible" from No Posit, Volume 1. Copyright © 2008 by Chelsea Martin.  Reprinted by permission of the author.

quinta-feira, março 20, 2014

La Grande Bellezza

É imperativo não perder o filme "A Grande Beleza". Já o tinha pirateado em Dezembro, vi-o há pouco e como deve ser visto, numa sala de Cinema. A beleza de uma Roma centro do mundo em decadência, a comicidade inteligente no sarcasmo ao que é a nossa  contemporaneidade. Um passeio que cada um faz pelo que é bonito e grotesco em nós. Uma viagem de proximidade ao lado de um velho escritor, cru e subtil no mesmo plano de análise da vida e da morte. A Direcção de Fotografia, o Actor, cada palavra.  Finalmente um filme que faz jus ao chamar-se Arte esta sétima via. No meio de tanta mediocridade e de tantos maus filmes galardoados nos últimos anos este é um filme sublime. Um maravilhoso e belo «truque» para ver e rever. G.F.

»È tutto sedimentato sotto il chiacchiericcio e il rumore, il silenzio e il sentimento, l'emozione e la paura… Gli sparuti incostanti sprazzi di bellezza. E poi lo squallore disgraziato e l'uomo miserabile.» Jap Gambardella                                  

Irlandeses...


quarta-feira, março 19, 2014

quase-primavera

O último beijo que o Sr.M. deu à sua mulher foi há mais de duas décadas. Desde aí, jamais tocou a boca de outra mulher. Já não se emociona quando se lembra disso. É que já não se lembra disso. Pergunta-me pelo Benfica enquanto vislumbra a sépia do bigode emoldurado do seu avô. Grave. Graves. Sepulturas. É quase quase primavera mas a casa perfuma-se de outono há muitas estações. Olhamos os dois lá para fora, chegou alguém. Apolónia, hora do lobo. Do outro lado da linha uma rapariga acaba de conhecer o último amor da sua vida. Conversaram durante todo o espaço que demora o Porto a querer encontrar Lisboa. Ele trabalha como voz-off. Em estações de rádio e, em tempos, de comboios. Anunciava destinos. Por vergonha ou medo de histórias não trocaram de apelidos. Não se adicionarão por enquanto. Tem na mão impressa a reserva: Check In no Hostel Esperança. Sorri e levanta a cabeça para a montra. Vê os jornais do dia a serem deitados fora outra vez. Na capa de um estampa-se a revolta popular. Um cartaz que grita cirílico. Nos olhos de quem o pega, a raiva. Um ferro que o vai matar nas mãos de um polícia para quem a segurança acabou para sempre. Nós não conseguimos ver o jornal. 

"Somos quase campeões caralho" E sorrimos. No andar de cima um bebé chora. Um berço logo à entrada, “raio de lugar para se guardar um bebé”. A mãe é bonita. O pai é incógnito. O bebé não sabe de nada e já chora. Há um vento doce que varre manso esta Lisboa do fim dos dias menos domésticos. Fantasmas dos amigos marinheiros do Sr. M. trepam-lhe todos os mastros das suas palavras. Pergunto-lhe se já descobriu a que sabe o medo? Ele diz-me, “prestes, prestes”. A rapariga adormece sozinha pela última vez na vida. O bebé já não chora.  “Ao menos campeões.”

Gonçalo Fontes

“Knowing how to be solitary is central to the art of loving. When we can be alone, we can be with others without using them as a means of escape.”

Bell Hooks, autora, activista social.

nem que visse este vídeo 100 vezes eu ia conseguir desenhar alguma coisa bonita:


vida-jogo

Bem antes dos “teras” o meu Nintendo NES tinha oito megas. Foi a segunda melhor prenda que recebi em garoto. A primeira, o barco dos piratas da Playmobil. Haverão melhores coisas a saborear enquanto estamos a viver a vida de putos do que o momento em que os nossos pais nos oferecem o exacto presente desejado? Joguei muitos jogos desde aquele verão em que passei para a escola preparatória. Hoje que terminei outros ciclos e passo mais que as horas necessárias a ler na internet metáforas do mundo, tenho encontrado analogias nos jogos de vídeo para entender melhor o jogo que é a vida que passo fora das tecnologias. Tentar entender.

 Houve uma viagem em que conheci, num hostel sobejamente manhoso, umas miúdas que se diziam poetisas a tentarem ser engatadas por uns fulanos que se proclamavam programadores de software. Dessas conversas e de depois ter conhecido um tipo de nome Oliver Emberton, anotei algumas pequenas pontes para chegar a mais uma pequena explicação nada cabal do que é a nossa vida-jogo.

A vida-jogo
Diziam os italianos antigos, justamente gesticulando, que a vida é como um jogo de xadrez. No final peões e reis somos guardados todos na mesma caixa. A vida é de facto um discorrer pela continuidade de estratégias que usamos durante todo o tempo que estamos acordados. Mesmo quando a nossa estratégia é decidirmo-nos por não ter qualquer uma. Quando ela é outra coisa, quando é jogarmo-nos ao azar. Jogar-nos, termo utilizado ternamente pelos alentejanos, significa também atirar-nos. E quando não nos estamos a atirar à vida, estamos a planear. Existem alguns pequenos jogos desta vida que é preciso saber jogar para que a nossa mortalidade não seja apenas um dado adquirido. Estes são jogos que exigem menos razão. Por exemplo dançar o hula,  fazer um mortal encarpado à retaguarda, mergulhar em pelota num lago gelado, saltar naquela atração ridícula que existia na zona radical da expo 98. São jogos que requerem algum planeamento para poderem ser adquiridos mas quando os estamos a jogar é necessário sobretudo percebermos as teclas certas e pensar menos. Contudo, a vida, essa que passa enquanto esquecemos o seu durar ao fazermos o amor, é feita pela forma como gerimos os nossos recursos. Os melhores jogadores são os que usam o tempo da melhor forma. Ninguém gosta de deixar os bónus de fora por culpa de um “time’s up”. No início do jogo da vida é o tempo que temos a mais que nos faz saborear a vitória de cada nível. Mais tarde no jogo percebemos que as moedas multiplicadas também nos ajudam a ter mais força, mas o tempo acaba por ser sempre a espada de Dâmocles sobre a nossa cabeça.

A vida começa quando alguém, por atração enganosa ou por decisão razoável, decide colocar uns créditos na máquina. Um que carrega no power, a outra que carrega no start e a nossa persona surge para ser escolhida. Uns dizem que está escrito no Universo, eu acredito mais que já está prescrito pela sorte. Está aqui a nossa personagem escolhida, arquemos então com as nossas circunstâncias de sermos quem somos, rumo até à boss final.
Até termos 15,16 anos, a nossa vida é basicamente vivenciada por uma quantidade infindável de tutoriais. Saltamos de plataforma em plataforma tentando e errando, modelando-nos, percebendo o que vai resultando ou não com outros jogadores iguais a nós que tentam guiar-nos. E com outros menos noobs que já jogam o jogo há mais tempo. Não adianta: todos temos que passar por isto. Se não passarmos, mais à frente, depois de morridas as primeiras vidas, teremos que voltar a alguns destes tutoriais mal aprendidos. Enquanto somos putos jovens, temos a nossa barra verde sempre cheia, o tempo também raramente escasseia. Falta-nos sobretudo a experiência que advém do treino. Mal começamos a ganhar experiência é mais fácil mudar para mundos mais evoluídos. Surgem os melhores parceiros, os melhores empregos, as melhores oportunidades de ganhar rapidamente.

Ao chegarmos aos 23,24, temos tempo, energia e algumas competências. A quantidade gigante de bosses para ainda passar não nos assusta. O que não nos mata torna-nos mais pequenos. E isto o tempo suficiente para sobrevivermos até encontrar cogumelos mágicos pouco maduros que nos dão novas vidas. Tudo o que fazemos terá repercussões no andamento dos níveis. Drogas e álcool darão alguma rapidez e saltos mais altos mas acabarão por talhar saúdes, necessárias mais à frente. Horas de estudo e trabalho cortarão coraçõezinhos mas tarde serão transformados em destrezas necessárias.
O mais difícil é quando o nosso cérebro quer uma coisa e o nosso corpo deseja outra. Quando sabemos exactamente a distância para saltar para o feijoeiro mas o nosso dedo clica o “b” antes do tempo. Também acredito que isto não é um Bug nem uma malformação na nossa personagem. Somos uns fulanos dependentes da nossa saúde, da nossa energia e da nossa motivação.  A nossa motivação tem picos ao longo do dia, pode ser tirânica e às vezes é preciso deitarmo-nos à sua mercê. Ganhar competências ao longo deste jogo é essencial. Uma coisa é perceber muito de computadores, outra é saber dar toques de cabeça repetidamente. A primeira pode levar-te a Silicon Valley a segunda ao calçadão da Costa da Caparica. Se perceberes de psicologia, de negócios e fores bué confiante podes tornar-te numa empreendedora de sucesso. Se perceberes de psicologia, dançares aquele kizomba e dares o toquezinho gourmet na cozinha vais ser um íman para as damas. Estuda o adversário, estuda psicologia.

O jogo começa num mundo estranho. A localização é importante. Move-te para onde houver recursos. Não é preciso nenhum primeiro-ministro medíocre apregoá-lo para se perceber isso. Se neste cano não há nada, entra no próximo. Paga com saudade na portagem. Quanto custa a saudade? (quase o prazer do jogo todo…)
E quanto custa amar? Nos primeiros níveis serás rejeitado algumas vezes, rejeitarás outras. Tal como num jogo de estratégia social, investe o tempo nas coisas certas. Na saúde, no desporto, na carreira, na sociabilização. Serás uma jogadora atraente, um player preparado. Só terás então de encontrar as plataformas onde estão as pessoas certas para ti.

Quanto às moedas apanha-as todas, poupa-as, investe-as, acumula-as, usa-as para ganhar tempos. Coopera com outros jogadores. Não as uses como o único objectivo do jogo. Nunca.


Chegados aos últimos níveis começamos a ficar mais letárgicos, a usar roupa mais confortávelzinha, mais mocos, menos loucos, menos latentes, mais dementes. Alguns voltaremos às fraldas. Com toda a sorte do mundo transformada em azar veremos desaparecer outros jogadores a quem já estávamos tão habituados. Afectados a eles, afectados por eles, tentaremos seguir até ao último nível que pudermos. Neste último nível já pouco controlamos o nosso ambiente. Exactamente como no nível zero. Pouco há que possamos fazer ou mudar. Na entrada para a fortaleza da boss final entendemos mais ou menos o jogo e chegamos à conclusão que as melhores partes foram as mais céleres a serem consumadas. Queremos voltar para trás, remendar aquela hora, viver outra vez aquele dia. Não dá. A Boss chegou e não há códigos nem batotas que nos valham. Os que julgam que não a conseguem derrotar fenecem. Os que julgam que a venceram também. Todos guardados nas mesmas caixas. Provavelmente a única diferença entre os primeiros e os segundos é que os primeiros estiveram sempre a jogar. Os outros, a maioria das vezes, a criar jogos que ainda não existem e sobretudo a brincar.
Gonçalo Fontes

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Deixando o Pago



Deixando o Pago

Alcei a perna no pingo
E saí sem rumo certo,
Olhei o pampa deserto
E o céu fincado no chão,
Troquei as rédeas de mão,
Mudei o pala de braço
E vi a lua no espaço
Clareando todo o rincão.

E a trotezito no mais,
Fui aumentando a distância
Deixando o rancho da infância
Coberto pela neblina;
Nunca pensei que minha sina
Fosse andar longe do pago
E trago na boca o amargo
Dum doce beijo de china.

Sempre gostei da morena,
É minha cor predileta,
Da carreira em cancha reta,
Dum truco numa carona,
Dum churrasco de mamona,
Na sombra do arvoredo,
Onde se oculta o segredo
Num teclado de cordeona.

Cruzo a última cancela
Do campo pro corredor
E sinto um perfume de flor,
Que brotou na primavera.
À noite, linda que era,
Banhada pelo luar,
Tive ganas de chorar
Ao ver o meu rancho tapera.

Como é linda a liberdade
Sobre o lombo do cavalo
E ouvir o canto do galo,
Anunciando a madrugada,
Dormir na beira da estrada
Num sono longo e sereno
E ver que o mundo é pequeno
E que a vida não vale nada.

O pingo tranqueava largo
Na direção de um bolicho,
Onde se ouvia o cochicho
De uma cordeona acordada;
Era linda a madrugada,
A estrla d'alva saía
No rastro das três marias,
Na volta grande da estrada.

Era um baile - um casamento
Quem sabe algum batizado,
Eu não era convidado,
Mas tava ali de cruzada,
Bolicho em beira de estrada
Sempre tem um índio vago,
Cachaça pra tomar um trago,
Carpeta pra uma carteada.

Falam muito no destino,
Até nem sei se acredito,
Eu fui criado solito,
Mas sempre bem prevenido,
índio do queixo torcido,
Que se amansou na experiência.
Eu vou voltar pra querência,
Lugar onde fui parido. 

João da Cunha Vargas, Poeta gaúcho do início do século passado